O "amanhecer DA" do Ethereum: como a atualização Fusaka pode tornar Celestia e Avail "desnecessários"?

No setor das criptomoedas, testemunhámos a ascensão e queda de inúmeras grandes ideias. Muitas equipas tentaram conquistar a quota de mercado da Ethereum, sempre com justificações semelhantes: a cadeia base não é suficientemente boa — demasiado cara, lenta, pouco escalável ou com demasiadas restrições para os desenvolvedores. Exemplos recentes incluem o lançamento do Plasma, uma stablecoin independente Layer-1 (L1), e o Monad, que aposta numa L1 EVM de alta capacidade de processamento.

No entanto, com o passar do tempo, a Ethereum refutou repetidamente essas acusações. A atualização “The Merge” provou que a Ethereum pode realmente migrar para Proof of Stake (PoS); a atualização “Dencun” quebrou o argumento de que os Rollups (soluções Layer-2 para aliviar a carga da rede Ethereum) nunca poderiam escalar devido ao custo elevado.

Na última quinta-feira, a Ethereum lançou oficialmente a atualização Fusaka, desafiando fortemente a narrativa de que “a Ethereum não consegue satisfazer as necessidades de Rollups de alta capacidade de processamento” — que é precisamente o pressuposto de sobrevivência de muitas blockchains modulares.

No artigo de hoje, vamos explorar a essência das blockchains modulares e as mudanças trazidas pela atualização Fusaka.

No final de 2023, uma equipa com profundo conhecimento em sistemas distribuídos apresentou o conceito de “blockchain modular”, ou seja, construir uma blockchain composta por três componentes modulares: execução (execution), liquidação (settlement) e disponibilidade de dados (data availability). Essa equipa era a Celestia.

O design da rede Celestia tinha como objetivo fornecer uma dessas peças do puzzle: disponibilidade de dados (DA). O núcleo da DA está em provar que os dados foram publicados na rede. Assim, quando uma cadeia gera um novo bloco, os nós validam a DA descarregando todos os dados.

A ideia da Celestia é que, ao aproveitar os “fragmentos do puzzle” das infraestruturas existentes, qualquer pessoa possa lançar facilmente uma blockchain. Os projetos podem escolher Arbitrum Orbit para execução, Ethereum para liquidação, e talvez Celestia, EigenDA ou Avail DA para satisfazer as necessidades de disponibilidade de dados.

A aposta inicial da Celestia era: em 2023, a baixa capacidade de processamento e os elevados custos de Gas da Ethereum tornavam-na inadequada para Rollups que exigem alta disponibilidade de dados.

Na altura, as margens de lucro dos Rollups na Ethereum eram reduzidas. As equipas normalmente só conseguiam reter cerca de 20% das taxas geradas e, em alguns casos, os custos de liquidação superavam as receitas provenientes dos utilizadores. As atualizações Dencun e Pectra mudaram esta equação, reduzindo os custos de liquidação e melhorando a situação económica dos operadores de Rollup.

A atualização Dencun introduziu um novo espaço chamado Blobs para armazenar dados dos Rollups, substituindo o antigo “calldata”. Os Blobs são cerca de 95% mais baratos do que o calldata. A atualização Dencun foi o primeiro passo para tornar os Rollups mais acessíveis em termos de custos.

Logo a seguir veio a Pectra. Esta atualização aumentou o número de Blobs por bloco. Se o primeiro passo foi criar um espaço dedicado para os dados dos Rollups, o segundo foi aumentar a sua capacidade. Com a implementação da Pectra, o objetivo passou a ser 6 Blobs por bloco.

Os Rollups transferiram as poupanças de custos para os utilizadores. O resultado foi uma redução significativa no custo das transações em L2, de 50 cêntimos para cerca de 3-4 cêntimos.

A visão da Celestia é separar a disponibilidade de dados da execução, permitindo uma escalabilidade fácil da blockchain ao reduzir a carga da L1 subjacente. O futuro desejado seria: vários Rollups a operar sobre uma única camada DA.

Embora a visão de “vários Rollups” tenha-se tornado realidade, este mercado foi capturado pela Ethereum. Estas atualizações beneficiaram enormemente a Ethereum, que fornece soluções DA para mais de 55 Rollups e suporta mais de 40 billions de dólares em valor total bloqueado (TVL).

Entretanto, a camada DA luta atualmente pela adoção. Nas últimas 24 horas, a Celestia gerou apenas 67 dólares em taxas diárias, processando 1600 Blobs; em comparação, a Ethereum processou 41.000 Blobs.

@L2Beat

Estes números em breve parecerão “brincadeira de criança”.

Com a mais recente atualização Fusaka da Ethereum, foi implementado na cadeia o PeerDAS, um novo método de amostragem de dados que aumenta significativamente a eficiência da verificação da disponibilidade de dados.

Cada nó verifica pequenos fragmentos de dados aleatórios e, coletivamente, garante que a rede possui todos os dados. Através da amostragem, a Ethereum aumentou a capacidade do objetivo atual de cerca de 6 Blobs por bloco para cerca de 10-15 Blobs por bloco, e este mecanismo permite aumentar gradualmente o número de Blobs por bloco no futuro sem necessidade de hard fork. A capacidade de Blobs irá duplicar dentro de um mês e, com o tempo, aumentará de 10 para 128 por bloco. Tudo isto acontecerá sem obrigar os validadores domésticos (pequenos validadores) a atualizar o seu hardware.

O aumento da oferta de espaço em bloco reduziu o preço dos Blobs e os custos operacionais das L2, tornando mais fácil manter uma L2 lucrativa.

Isso faz-me lembrar 2023, quando cadeias DA como Avail e Celestia publicavam tabelas comparativas mostrando que os seus dados de capacidade de processamento eram superiores aos da atualização EIP-4844 Denarius da Ethereum. Na altura, os dados de throughput da camada DA eram realmente muito superiores ao futuro próximo da Ethereum. No entanto, com a atualização Fusaka, a Ethereum deverá atingir o limite de 128 Blobs por bloco, o que equivale a 16MB/bloco, o dobro da capacidade atualmente oferecida pela Celestia.

@Availproject

Fusaka marca um marco importante para a Ethereum. A cadeia conseguiu expandir a sua capacidade de transação sem excluir os validadores domésticos ao exigir hardware mais potente, evitando assim a centralização da rede.

Fusaka é uma celebração do caminho da Ethereum para um futuro “centrado nos Rollups”. Desde 2023, quando o preço das transações em L2 se igualou ao das outras transações, até ao PeerDAS Blob de hoje, a rede percorreu um longo caminho.

Surpreendentemente, o PeerDAS é apenas uma das 13 EIPs (Ethereum Improvement Proposals) implementadas nesta atualização histórica. Além do PeerDAS, Fusaka inclui aumento do limite de Gas e introduz a taxa base dos Blobs (Base fee) limitada pelo custo de execução, garantindo que as taxas dos Blobs não caiam para zero. Assim, isso pode aumentar a receita dos validadores por Blob.

Os Rollups agora têm uma camada de dados mais previsível e escalável, eliminando o medo de sobrecarga da rede em períodos de pico de uso. Esta estabilidade permite que as equipas se concentrem em melhorias de infraestrutura: podem descentralizar os sequenciadores, experimentar designs de menor latência e promover uma experiência de utilizador mais fluida, sem receio de que os custos de DA se tornem subitamente proibitivos.

No entanto, é importante notar que, após Fusaka, a capacidade de Blobs começa em 10 por bloco e só pode duplicar mensalmente através do mecanismo interno da rede. Se esses aumentos mensais serão implementados sem problemas será o verdadeiro teste prático do PeerDAS. O mesmo se aplica à precificação dos Blobs. Embora o novo preço mínimo reforce os incentivos dos validadores, o impacto na experiência dos utilizadores dos Rollups ainda não está totalmente claro.

Nos próximos meses, vou acompanhar os efeitos secundários interessantes que Fusaka terá nos Rollups e na experiência dos seus utilizadores. Assim que tiver novidades, voltarei para partilhar.

Até lá, aproveite esta época festiva.