O Japão planeja reformar a taxa de imposto sobre criptomoedas para 20%. Será que isso pode trazer uma nova onda de compras?

Autor: Wenser, Odaily

No recém-encerrado evento WebX no Japão, a senadora do Partido Liberal Democrata do Japão e presidente do Comitê de Orçamento, Katayama Satsuki (nome verdadeiro: 片山さつき), afirmou no local que o Japão está atualmente discutindo uma reclassificação das próprias criptomoedas, ou seja, uma redefinição de ativos de investimento em cripto já amplamente conhecidos, como BTC e ETH. A atual alíquota de imposto sobre ativos cripto no Japão chega a 55%, mas se os ativos cripto forem transferidos da jurisdição da Lei de Serviços de Pagamento para a Lei de Instrumentos Financeiros e de Intermediação, a alíquota pode cair para 20%, igualando-se à taxa de imposto sobre ações. Ela também afirmou: “Essa reforma pode ser implementada em um ou dois anos e espera-se que produza efeitos rapidamente. A direção dessa reforma já foi decidida em reunião do gabinete — normalmente isso significa um forte impulso. No entanto, como o Partido Liberal Democrata perdeu a maioria no parlamento, precisamos negociar com outros partidos, o que leva tempo e torna o processo um pouco mais complexo, mas já há vários partidos que compartilham nossa visão, então vamos observar o desenrolar dos acontecimentos. A decisão final deve ser tomada antes de dezembro.”

Odaily irá analisar detalhadamente essa questão neste artigo, explorando se essa reforma tributária pode trazer mais variáveis para o mercado cripto.

A inevitável mudança na tributação cripto: o dilema econômico sob o “novo capitalismo”

Analisando de perto essa reforma tributária das criptomoedas, iniciada pela Agência de Serviços Financeiros do Japão e impulsionada pelo Partido Liberal Democrata, o principal motivo está no ambiente econômico atualmente desfavorável do Japão.

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão no início de julho, o salário real ajustado pela inflação em maio caiu 2,9% em relação ao ano anterior, ampliando a queda de 2,0% revisada em abril, sendo a maior queda desde setembro de 2023. Além disso, o índice de preços ao consumidor utilizado pelo ministério para calcular o salário real (que inclui preços de alimentos frescos, mas exclui custos de aluguel) subiu 4,0% em maio em relação ao ano anterior, superando amplamente o crescimento do salário nominal. O preço do arroz em maio subiu 101,7% em relação ao ano anterior, o maior aumento em mais de meio século.

O aumento dos preços, combinado com declarações infelizes de ministros e problemas com cupons de produtos, abalou repetidamente a credibilidade do Partido Liberal Democrata como partido no poder. Em 21 de julho, na 27ª eleição para o Senado do Japão, a coalizão governista formada pelo Partido Liberal Democrata e o Komeito conquistou 47 cadeiras, não atingindo a maioria de 50 cadeiras e, portanto, não mantendo a maioria no Senado. Além disso, já não detinha a maioria na Câmara dos Deputados, tornando-se oficialmente um “governo minoritário nas duas casas”. Esta é a primeira vez desde a fundação do Partido Liberal Democrata em 1955 que a coalizão liderada por ele perde a maioria em ambas as casas simultaneamente.

Além disso, as negociações tarifárias entre Japão e EUA também afetam o pulso da economia japonesa, influenciando as mudanças e o desenvolvimento do cenário econômico doméstico e internacional. O Japão de hoje enfrenta dificuldades tanto internas quanto externas. Diante disso, o governo japonês precisa buscar novas soluções sob a diretriz do “novo capitalismo”. Especificamente, os esforços do governo japonês incluem os seguintes dois aspectos:

Por um lado, aumentar o salário mínimo para “aumentar a receita” da população. No início de agosto, o Conselho Central de Salário Mínimo do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão decidiu elevar o padrão nacional médio ponderado do salário mínimo para o ano fiscal de 2025 para 1.118 ienes por hora (aproximadamente 54,60 yuan), um aumento de 63 ienes em relação ao atual de 1.055 ienes, uma alta de 6%, o maior aumento desde a implementação do sistema de salário por hora em 2002. Este também é o 23º ano consecutivo de aumento do salário mínimo no Japão e, se implementado, o salário por hora em todas as prefeituras ultrapassará 1.000 ienes pela primeira vez.

Por outro lado, reduzir a alíquota de impostos para “reduzir despesas” da população. Atualmente, esse passo está limitado por disputas partidárias e ainda está em estágio inicial. O Partido Liberal Democrata sempre buscou reclassificar ativos cripto e reduzir a alíquota de impostos para promover o Japão como centro de desenvolvimento da indústria Web 3; mas partidos de oposição como o Partido Democrático Constitucional e o Partido Democrático Progressista também fizeram promessas semelhantes em eleições (como as medidas de NFT e Web 3 propostas pelo líder do Partido Democrático Progressista, Yuichiro Tamaki), portanto, após se tornar um “governo minoritário”, o ritmo da reforma tributária do Partido Liberal Democrata foi inevitavelmente atrasado para evitar críticas de ser uma “política de redução de impostos para os ricos”. Por isso, a reforma tributária das criptomoedas é vista como um novo ponto de ruptura, ou seja, transferir as criptomoedas da categoria de “meio de pagamento” regulada pela Lei de Serviços de Pagamento para “produto financeiro” sob a Lei de Instrumentos Financeiros e de Intermediação.

Assim, os ganhos com criptomoedas passarão de “renda diversa” sujeita a uma alíquota progressiva de até 55% (45% de imposto de renda + 10% de imposto residencial, sem incluir impostos locais) para uma alíquota unificada de 20%, igual à de ações e títulos.

A estratégia “em dois passos” da reforma tributária japonesa: primeiro revisar a lei tributária, depois atualizar a regulação

Vale ressaltar que a reforma tributária japonesa não é algo que acontece da noite para o dia, ainda mais porque ativos cripto envolvem alterações cruzadas na Lei de Serviços de Pagamento (PSA) e na Lei de Instrumentos Financeiros e de Intermediação (FIEA), tornando o ciclo mais complexo, além de estar sujeita à revisão da Agência de Serviços Financeiros do Japão (FSA) e à influência política do parlamento.

Até o momento, a reforma tributária japonesa será realizada em duas etapas:

Primeiro, revisar a lei tributária, ou seja, ajustar as criptomoedas da categoria de “tributação abrangente” para a categoria de “tributação separada declarada”, igual à das ações, reduzindo a alíquota para cerca de 20% (15% de imposto de renda + 5,015% de imposto residencial + imposto especial de reconstrução).

Segundo, atualizar a regulação, ou seja, por meio de emenda legal, reclassificar as criptomoedas como produtos financeiros, permitindo que a Agência de Serviços Financeiros aplique regras de negociação com informação privilegiada, padrões de divulgação de informações e medidas de proteção ao investidor conforme a Lei de Instrumentos Financeiros e de Intermediação.

Por trás da reforma tributária cripto: ETF de cripto e stablecoin em iene prestes a serem lançados

Vale notar que as reformas acima também são vistas como uma preparação dos reguladores japoneses para o lançamento de ETFs de criptomoedas e stablecoins em iene. Não se pode negar que o desenvolvimento das criptomoedas no Japão está um pouco estagnado atualmente, em parte devido a incidentes de segurança como o roubo de bitcoin da Mt.Gox; e a alta tributação também limita a atividade de negociação no setor cripto.

De acordo com estatísticas do vice-presidente da Associação de Negócios de Criptomoedas do Japão, Shiraishi, enquanto o mercado global de criptomoedas expandiu de 872 bilhões de dólares para 2,66 trilhões de dólares, o volume de negociações domésticas no Japão cresceu apenas de 66,6 bilhões de dólares em 2022 para um nível estimado de 133 bilhões de dólares este ano, um aumento de apenas cerca de duas vezes.

Ao mesmo tempo, uma pesquisa do Cornell Bitcoin Club mostrou que 88% dos residentes japoneses nunca possuíram bitcoin; mas uma pesquisa conjunta da Nomura Holdings e Laser Digital revelou que 54% dos investidores institucionais japoneses planejam investir em ativos cripto nos próximos três anos.

Com base nessas informações, a reforma tributária cripto, o lançamento de ETFs de cripto e o lançamento de stablecoins em iene são urgentes. Segundo relatos da mídia, a primeira stablecoin em iene aprovada pela Agência de Serviços Financeiros do Japão — JPYC, emitida pela fintech homônima de Tóquio, planeja emitir 1 trilhão de ienes (aproximadamente 6,78 bilhões de dólares) em stablecoins nos próximos três anos, apoiada por ativos altamente líquidos como depósitos e títulos do governo, com potenciais aplicações em remessas internacionais, pagamentos corporativos e DeFi. O segundo maior banco do Japão, Mitsubishi UFJ Financial Group (SMBC), também anunciou planos de lançar uma stablecoin em parceria com Ava Labs e Fireblocks.

Indústrias emergentes como criptomoedas são vistas como “tábua de salvação” para o desenvolvimento social japonês

O motivo pelo qual o governo japonês valoriza tanto o setor de criptomoedas é porque enxerga o potencial de desenvolvimento das indústrias emergentes representadas pelo setor cripto — na conferência WebX 2025 realizada em Tóquio, o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, afirmou no local que, diante do aumento das incertezas geopolíticas, o poder das indústrias emergentes tornou-se extremamente importante para buscar novos caminhos de crescimento econômico. O governo japonês continuará otimizando o ambiente de desenvolvimento dessas indústrias, promovendo o crescimento de setores emergentes como Web 3, digital, semicondutores, IA e espaço, por meio de apoio a investimentos e reformas regulatórias, impulsionando o desenvolvimento vigoroso de novas indústrias.

Ishiba também mencionou que a principal razão para a queda populacional no Japão é a excessiva concentração populacional em Tóquio, com taxas de casamento e natalidade em queda, formando um ciclo vicioso. Neste momento histórico, o governo espera aproveitar o potencial de novas tecnologias como Web 3 para trazer nova vitalidade à sociedade japonesa. A tecnologia Web3 pode ajudar a impulsionar as reformas promovidas pelo governo, e, por meio da aplicação inovadora da tecnologia digital, não só pode aumentar a competitividade industrial, mas também fornecer novas soluções para problemas sociais como desenvolvimento regional e mudanças na estrutura populacional.

Conclusão: Quando a reforma tributária será iniciada e implementada?

De acordo com o ciclo de mudanças legais no Japão, o processo de reforma tributária geralmente segue um ritmo anual: em dezembro de cada ano é publicado o esboço da reforma tributária, em março-abril do ano seguinte é submetido ao parlamento para deliberação, aprovado por volta de junho e entra em vigor em abril do ano seguinte. A reforma da alíquota de imposto sobre criptomoedas desta vez é um pouco mais urgente, portanto a proposta específica deve ser apresentada até o final do ano, e a ação legislativa pode ocorrer no início de 2026.

Quanto à implementação formal, pode ser necessário esperar até junho de 2026 ou até o segundo semestre. As principais figuras que impulsionam o projeto incluem membros da equipe de projetos Web 3 do Partido Liberal Democrata (Web 3 PT), como Masaaki Taira, Katsunobu Kato, o presidente da JCBA e CEO da Bitbank, Noriyuki Hirosue, e a senadora do Partido Liberal Democrata e presidente do Comitê de Orçamento, Katayama Satsuki, mencionada anteriormente.

Nesse momento, o mercado pode esperar uma nova onda de compras.