As ações de Hong Kong entram em um "novo ciclo de reavaliação"?

Este ano é de grande significado para as ações de Hong Kong. A mudança de política do Federal Reserve não apenas implica ajustes nas taxas de juros, mas também uma reprecificação global do capital. Qual é o núcleo da nova lógica de investimento?

O recém-encerrado Simpósio Global de Bancos Centrais de Jackson Hole de 2025 pode se tornar um evento emblemático da atual virada de liquidez global. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, enviou sinais claros de flexibilização de política, apontando que a atual pressão inflacionária decorre principalmente do aumento dos preços de commodities causado por ajustes tarifários, sendo esse tipo de inflação “claramente visível, mas possivelmente pontual”. Ele também enfatizou que o mercado de trabalho está esfriando e o ímpeto de crescimento econômico está diminuindo. Embora não tenha se comprometido explicitamente com cortes de juros, o mercado interpretou amplamente sua postura como dovish, e os futuros dos Fed Funds reagiram rapidamente, elevando a probabilidade de corte de juros em setembro para mais de 85%.

Com as expectativas de afrouxamento da política monetária global, a realocação de capital tornou-se o foco do mercado. Diferente do ciclo de alta de juros do Federal Reserve nos últimos anos, que resultou em “refluxo do dólar”, a atual liberação de liquidez tende a favorecer mercados com baixo valuation e alto potencial de crescimento. Os ativos chineses, especialmente os setores de tecnologia e consumo das ações de Hong Kong e A-shares, estão entrando com destaque no radar dos investidores globais.

Relembrando os dois últimos ciclos de cortes de juros do Federal Reserve, as mudanças no fluxo de capital geralmente apresentaram características estruturais claras. Após a crise financeira de 2008, grandes volumes de capital global fluíram para mercados emergentes, impulsionando a reavaliação dos ativos chineses; após o surto da pandemia em 2020, a política de taxa zero e o programa de compra de ativos do Federal Reserve também sustentaram, em certa medida, a resiliência do mercado de capitais chinês. Embora a nova rodada de expectativas de cortes de juros ainda não tenha se concretizado, seu impacto sobre os fluxos globais de capital já começou a se manifestar.

Segundo dados da EPFR Global, de maio a julho de 2025, os fundos de ações de mercados emergentes registraram entradas líquidas por 10 semanas consecutivas, com fundos relacionados à China atraindo mais de 12 bilhões de dólares. O mercado de ações de Hong Kong também mostra sinais de retorno de capital estrangeiro, com entradas líquidas substanciais tanto de investidores de longo quanto de curto prazo. Observando o comportamento dos investidores, os de longo prazo tendem a alocar ativos e setores com valuation razoável e políticas estáveis, e as ações de Hong Kong atualmente reúnem essas duas características.

Até 25 de agosto de 2025, o índice Hang Seng e o índice Hang Seng Tech apresentavam P/L de 11,7x e 21,1x, respectivamente, ainda com espaço significativo de valorização em relação ao pico de 2021. De acordo com o percentil histórico dos últimos 10 anos, o valuation do índice Hang Seng está no percentil de 65,1%, enquanto Nasdaq, DAX e Nikkei estão em 80,7%, 87,9% e 70,8%, respectivamente. Com a recuperação notável da economia chinesa, o valuation relativamente baixo das ações de Hong Kong torna-se ainda mais atraente.

Ao mesmo tempo, o capital do continente também está aumentando sua exposição às ações de Hong Kong. O Southbound Capital, principal canal para investidores do continente acessarem o mercado de Hong Kong, já registrou entrada líquida acumulada superior a 880 bilhões de yuans no ano, com expectativa de ultrapassar 1 trilhão de yuans até o final do ano. O fluxo acelerado do Southbound Capital não só aumenta a liquidez das ações de Hong Kong, mas também amplia significativamente o poder de precificação dos investidores do continente nesse mercado.

Estruturalmente, o valor de alocação do setor de tecnologia das ações de Hong Kong está sendo redescoberto pelo mercado. As empresas de tecnologia de Hong Kong estão amplamente distribuídas em toda a cadeia de valor da inteligência artificial, abrangendo desenvolvimento de modelos, aplicações comerciais e ecossistemas de terminais. Com avanços contínuos em hardware e software, aumento dos investimentos de capital, aprofundamento da reserva tecnológica e da presença industrial, o setor de tecnologia deve continuar se beneficiando dos dividendos da transformação industrial. Dados mostram que, no setor de tecnologia das ações de Hong Kong, empresas de software e conteúdo representam 57% e 23% do valor de mercado, respectivamente, muito acima do registrado nas A-shares, demonstrando forte potencial de crescimento e competitividade internacional.

A atenuação marginal das relações China-EUA também oferece um ambiente externo mais estável para o setor de tecnologia das ações de Hong Kong. O arrefecimento das disputas comerciais e o relaxamento dos controles de exportação de tecnologia ajudam a melhorar as expectativas fundamentais do setor e aumentam a confiança dos investidores estrangeiros. Embora, no curto prazo, algumas empresas de plataforma sejam impactadas por fatores como a “guerra de subsídios”, levando a revisões negativas nas expectativas de lucro, no longo prazo, essas empresas mantêm posições sólidas na transformação digital e em IA, sendo provável que o atual pessimismo seja temporário.

Vale notar que, devido à recente alta acelerada da taxa HIBOR, o mercado demonstrou alguma preocupação com a liquidez do dólar de Hong Kong, mas o ambiente de liquidez das ações de Hong Kong não sofreu mudanças substanciais. O índice de prêmio AH do Hang Seng caiu de 131,54 em meados de junho para 122,6 em meados de agosto, atingindo o menor nível em quase seis anos. Essa mudança reflete o estreitamento da diferença de valuation entre as ações de Hong Kong e as A-shares, indicando que a liquidez do mercado de Hong Kong permanece abundante.

A recuperação das ações de Hong Kong não é apenas resultado da correção de valuation, mas também uma reafirmação da resiliência econômica da China e da estabilidade de suas políticas por parte do capital global. Com a política fiscal doméstica ganhando força e as políticas industriais sendo gradualmente implementadas, as ações de Hong Kong, como representantes dos ativos chineses, estão recuperando seu poder de precificação. Especialmente no contexto de reconstrução das cadeias globais de produção e aceleração dos ciclos tecnológicos, a presença da China em IA, energia verde e consumo digital está gradualmente se convertendo em novos hotspots e oportunidades para o mercado de capitais.

Além disso, o grau de internacionalização das ações de Hong Kong lhes confere uma vantagem natural na alocação global de capital. Em comparação com muitos mercados emergentes, os ativos chineses oferecem maior previsibilidade em termos de transparência institucional, profundidade de mercado e coordenação de políticas. Isso não só aumenta o apetite dos investidores, mas também reduz custos de alocação e exposição ao risco. No momento em que investidores globais buscam “certeza”, os ativos chineses representados pelas ações de Hong Kong estão entre os poucos mercados com vantagens de valuation e suporte de políticas.

De modo geral, 2025 é um ano de grande significado para as ações de Hong Kong. A mudança de política do Federal Reserve não implica apenas ajustes nas taxas de juros, mas também uma reprecificação global do capital. Nesse processo, a correção de valuation dos ativos chineses, a atualização industrial e a estabilidade das políticas formam o núcleo da nova lógica de investimento. Para os investidores globais, isso não é apenas uma realocação tática, mas pode ser uma reestruturação estratégica. Como um dos principais representantes dos ativos chineses, as ações de Hong Kong estão silenciosamente saindo do vale de valuation e entrando em um novo ciclo de reavaliação de capital.