Começando com o aumento de 17% após o lançamento do ABTC: a estratégia de quatro frentes da família Trump e o panorama do império cripto

4 de setembro de 2025, Nasdaq, Nova York.

Quando as ações da American Bitcoin (código: ABTC), empresa de Bitcoin cofundada por Eric Trump, filho do presidente dos Estados Unidos, dispararam quase 17% no primeiro dia de negociação — atingindo um pico de US$ 14 e com volume superior a 29 milhões de ações — o valor das ações detidas por Eric Trump ultrapassou US$ 500 milhões em apenas algumas horas.

Para os observadores experientes do setor cripto, o sinal não poderia ser mais claro: o interesse da família Trump vai muito além da mineração. Isso se assemelha a uma declaração cuidadosamente planejada, marcando o início de uma ofensiva sistêmica sobre todo o ecossistema de ativos digitais, abrangendo desde Meme, DeFi até infraestrutura.

Não se trata de um simples arranjo comercial, mas sim de uma “estratégia aberta” meticulosamente orquestrada e multifacetada — um grande projeto destinado a fundir profundamente a marca Trump, o IP político mais poderoso do mundo, em cada elo de valor da era dos ativos digitais. Não é apenas uma história de negócios familiar, mas um exemplo da interseção entre política, capital e tecnologia nesta era.

O início de tudo: o gigante da mineração que “não minera”

A listagem da American Bitcoin (ABTC) revelou um modelo totalmente diferente das mineradoras tradicionais. O objetivo central da empresa não é simplesmente “minerar”, mas sim um projeto mais ambicioso de “acumulação de Bitcoin”. Para isso, a ABTC não seguiu o caminho tradicional de construir suas próprias fazendas de mineração ou adquirir máquinas, mas adotou um modelo extremamente engenhoso de “asset-light” (ativos leves), que é a chave de sua história.

A própria ABTC não possui nem opera diretamente grandes clusters de máquinas de mineração e centros de dados. Em vez disso, firmou uma parceria estratégica com a gigante norte-americana Hut 8. A Hut 8 transferiu parte de seus ativos de mineração para a ABTC em troca de 80% das ações da nova empresa, tornando-se sua fornecedora exclusiva de infraestrutura e serviços operacionais. Os 20% restantes pertencem à American Data Centers, outra empresa apoiada por Eric e seu irmão Donald Trump Jr.

Essa estrutura é notável. Para a ABTC, elimina-se o pesado fardo de ativos típico das mineradoras — compra de máquinas, construção de instalações e negociação de energia — transformando-se em uma plataforma flexível e focada em operações de capital para “acumulação de Bitcoin”. Sua principal tarefa deixa de ser resolver problemas de engenharia, passando a captar recursos para seus planos ambiciosos de crescimento no maior mercado de capitais do mundo, a Nasdaq. Logo após a listagem, a ABTC apresentou um plano de emissão de ações “at-the-market” de até US$ 2,1 bilhões, deixando claro seu objetivo: acumular Bitcoin a qualquer custo com capital público.

Para a veterana Hut 8, o negócio também é significativo. Ela se desfaz de parte de suas operações de mineração de alto risco e volatilidade, migrando para um modelo mais estável de fornecimento de infraestrutura e energia. Como afirmou a Hut 8 em comunicado aos investidores: “Ao listar a American Bitcoin, abrimos um canal independente de capital de crescimento para ela, ao mesmo tempo em que mantemos exposição ao potencial de valorização do Bitcoin para nossos acionistas e criamos receitas contratuais estáveis.” É um típico ganha-ganha, uma cirurgia financeira de precisão para separar risco e oportunidade.

Mas qual o tamanho da ambição da ABTC? Seu slogan é “O caminho para mais de 50 EH/s de poder computacional”. Um número impressionante, suficiente para colocá-la entre as maiores mineradoras do mundo. Mas, no contexto atual do mercado, essa ambição ganha contornos mais claros.

Comparativo operacional das mineradoras de Bitcoin listadas (dados do 3º trimestre de 2025)

Nota: valor de mercado e poder computacional são dados dinâmicos, estimativas para o início do 3º trimestre de 2025.

A tabela mostra claramente que gigantes como Marathon e CleanSpark já atingiram o patamar de 50 EH/s. O objetivo da ABTC é competir de igual para igual com esses veteranos. Mas, diferentemente deles, o maior trunfo da ABTC talvez não seja tecnologia ou capital, mas sim o enorme poder de influência e apelo de mercado do nome “Trump”.

Quatro frentes de batalha: um império cripto sem lacunas

Se a ABTC é a bandeira mais brilhante da família Trump no mundo cripto, sob essa bandeira já se desenha um império cobrindo quatro áreas-chave do setor.

Primeira frente: o “imobiliário” do mundo digital — American Data Centers

Antes da fundação da ABTC, Eric e Donald Trump Jr. já tinham voltado seus olhos para a base da indústria cripto — os data centers. No início de 2025, a American Data Centers (ADC), de propriedade da família, anunciou uma parceria com a empresa listada Dominari Holdings para atuar nos setores de inteligência artificial (IA) e computação de alta performance (HPC). O escopo da ADC inclui explicitamente serviços de hospedagem para mineração de criptomoedas. Eric e Donald Trump Jr. também ingressaram no conselho consultivo da Dominari.

Esse movimento é crucial. Mostra que a visão da família Trump vai além de “trading” ou mineração, chegando ao negócio fundamental da economia digital — as “pás e picaretas”. Tanto o treinamento de modelos de IA quanto a mineração de Bitcoin dependem de poder computacional e data centers robustos. Controlar essa camada é como segurar o pescoço do mundo digital do futuro, tornando-se o “imobiliário digital” da nova era.

Segunda frente: domínio da cultura e da atenção — NFT e Meme Coin oficial

Se os data centers são a base física do império, o controle da cultura e da atenção é sua expressão de soft power. Donald Trump já é veterano nesse campo. Desde 2022, lançou várias coleções oficiais de NFTs — os “Trump Digital Trading Cards”. Esses NFTs renderam mais de US$ 7 milhões em receita direta, mas, mais importante, permitiram que ele se conectasse diretamente com a comunidade cripto de forma “Web3 nativa”.

Mais impactante ainda foi o lançamento, em 17 de janeiro de 2025, da Meme Coin oficial — $TRUMP. Um marco. Diferente das moedas “MAGA” criadas espontaneamente pela comunidade, 80% do suprimento total do $TRUMP é detido por duas LLCs da família Trump, e o site oficial declara ser “o único Meme oficial de Trump”. Isso marca a transição da marca Trump de objeto passivo de memes para agente ativo, usando o meme — a arma cultural mais poderosa do mundo cripto — para construir sua própria economia de fãs e força comunitária.

Terceira frente: o “banco central” próprio — World Liberty Financial ($WLFI)

Se os três primeiros movimentos ainda estão dentro do esperado, a existência da World Liberty Financial revela a ambição de construir um ecossistema financeiro independente.

A World Liberty Financial é um protocolo DeFi robusto, de complexidade e ousadia impressionantes. Possui seu próprio token de governança, $WLFI (semelhante a ações do ecossistema), e lançou sua stablecoin, $USD1. Segundo dados on-chain e reportagens, uma entidade controlada pela família Trump detém 60% do protocolo e direito a 75% da receita. O valuation do projeto já chega a dezenas de bilhões de dólares.

O papel dos membros da família também chama atenção: Donald Trump é o “Chief Crypto Advocate”, seu filho mais novo, Barron Trump, é chamado de “DeFi Visionary”, enquanto Eric e Donald Jr. são “Web3 Ambassadors”. Os parceiros do $WLFI incluem empresas de investimento ligadas ao governo de Abu Dhabi e figuras conhecidas do universo cripto, como Justin Sun.

O surgimento do $WLFI mostra que o império cripto da família Trump já alcançou o núcleo do setor — emissão de moeda e serviços financeiros. Eles não querem apenas participar do jogo, mas definir as regras, criando uma “zona financeira independente” centrada na marca Trump, abrangendo DeFi e stablecoins.

Catalisador final: quando o presidente se torna “Chief Evangelist”

Toda essa estratégia comercial ocorre em um contexto político grandioso, moldado pelo próprio Donald Trump.

Olhando para trás, a postura de Trump sobre criptomoedas mudou 180 graus. Em 2021, ele criticou duramente o Bitcoin, chamando-o de “fraude” e dizendo que “compete com o dólar”. Mas, durante a campanha presidencial de 2024, percebeu o enorme potencial político da comunidade cripto e passou a cortejar o setor, prometendo tornar os EUA a “capital mundial das criptos” e jurando “nunca permitir a criação de uma CBDC”.

Após retornar à Casa Branca, essas promessas rapidamente se tornaram políticas concretas. Em março de 2025, a Casa Branca anunciou a criação da “Reserva Estratégica de Bitcoin” dos EUA, incluindo o Bitcoin como ativo estratégico nacional. Em julho do mesmo ano, Trump assinou a “GENIUS Act” (The Genuine Economic Nurturing for Universal Stablecoins Act), estabelecendo um marco regulatório claro para stablecoins.

Essas ações políticas têm grande significado. Não apenas pavimentam o caminho para o desenvolvimento do setor cripto nos EUA, mas, crucialmente, oferecem uma “opção de alta política” incomparável para todos os projetos cripto ligados ao nome “Trump”. O endosso presidencial se torna o maior fosso competitivo. Quando o líder máximo do país defende publicamente o Bitcoin e a inovação cripto, os negócios da família ganham uma aura de legitimidade e expectativa de mercado difícil de igualar.

Conclusão: uma fusão sem precedentes

Ao juntar todas as peças, surge um quadro claro. Do sino da ABTC na Nasdaq ao controle da ADC sobre a infraestrutura digital; do surfe do $TRUMP na cultura Meme à tentativa do $WLFI de construir um sistema financeiro independente; até os ventos políticos da Casa Branca — nada disso é especulação comercial isolada.

É uma estratégia cuidadosamente pensada e altamente coordenada. Um novo paradigma que funde perfeitamente influência política, capital comercial, tendências tecnológicas e cultura. A família Trump está apostando em todos os níveis-chave do universo cripto, tentando construir um ecossistema fechado que vai da infraestrutura básica às aplicações, cultura e finanças.

Ninguém sabe o desfecho desse jogo. Mas é certo que a família Trump já se vinculou ao futuro das criptomoedas com profundidade e amplitude inéditas. Eles não são mais outsiders ou especuladores, mas estão se esforçando para se tornar um dos principais formuladores de regras desse novo mundo. Para todo o setor cripto, isso representa uma enorme oportunidade — e uma variável sem precedentes. Um império cripto impulsionado por uma família de líderes políticos está chegando com uma força nunca vista antes.