Índia reconfigura importações de energia em meio ao avanço do BRICS

O petróleo bruto americano está perdendo espaço. Nesta semana, a Indian Oil Corporation (IOC), principal refinaria pública da Índia, deixou de lado os embarques dos Estados Unidos para se concentrar no Oriente Médio e na África Ocidental. Esse reequilíbrio logístico, aparentemente técnico, reflete uma mudança estratégica: a ascensão das alianças energéticas dentro dos BRICS, o declínio do dólar no comércio de petróleo e a afirmação de uma nova ordem econômica.

Uma escolha econômica em aparência, mas um sinal estratégico em substância

A decisão da Indian Oil Corporation (IOC), principal refinaria pública da Índia, de não incluir o petróleo bruto americano em seu último pedido é um sinal forte, enquanto Rússia e Arábia Saudita optaram por aumentar sua produção a partir de outubro.

Embora tenha comprado cinco milhões de barris de West Texas Intermediate (WTI) na semana anterior, desta vez a IOC favoreceu embarques de Abu Dhabi (Das) e Nigéria (Agbami e Usan). Esse ajuste pode parecer operacionalmente menor, mas marca um ponto de virada estratégico.

Aqui estão os principais elementos factuais desta operação:

• O petróleo bruto americano (WTI) foi excluído em favor de barris do Oriente Médio e da África Ocidental, uma decisão voluntária da IOC;

• A arbitragem em direção à Ásia foi encerrada: o aumento dos preços do Murban e Dubai, combinado com a evolução dos custos de frete, tornou as alternativas mais competitivas;

• As decisões da IOC baseiam-se em cálculos econômicos rigorosos;

• A mudança de fornecedores não é temporária: na semana anterior, o petróleo bruto americano ainda fazia parte das compras, mas hoje não mais;

• Não se trata de uma reação diplomática, mas de uma escolha de rentabilidade, impulsionada por imperativos de margem e simplificação logística.

Essa série de elementos mostra uma mudança que vai além das considerações cíclicas. O abastecimento energético indiano começa a refletir uma lógica de diversificação onde o alinhamento com fornecedores dos BRICS se torna cada vez mais visível.

O petróleo bruto americano, antes visto como indispensável, torna-se uma opção entre outras, sujeita a uma análise de rentabilidade do petróleo.

Uma tendência alimentada pela desdolarização e tensões comerciais

Enquanto isso, a China, outro pilar dos BRICS, praticamente parou de importar petróleo bruto americano este ano, um colapso amplamente atribuído à multiplicação de tarifas impostas por Washington. Essas barreiras tarifárias destruíram as margens, levando Pequim a recorrer a fornecedores menos restritivos, especialmente a Rússia.

Também na Índia, as importações de petróleo americano caíram drasticamente em agosto, enquanto os volumes russos ganharam espaço.

Além dos fluxos comerciais, é a própria lógica das transações de petróleo que está evoluindo. O quadro habitual do petrodólar é desafiado pela exploração de mecanismos alternativos dentro da aliança dos BRICS: liquidações em moedas locais, plataformas de compensação independentes e uma intenção explícita de se afastar do dólar em certas transações energéticas.

Trump, inadvertidamente, aproxima ainda mais os BRICS com suas sanções. Longe de um boicote ideológico, a abordagem da IOC se encaixa em um contexto de otimização estratégica. Se as condições econômicas e logísticas mudarem, o petróleo bruto americano pode voltar a ser atraente. Enquanto isso, o mercado asiático explora outras alternativas, mais diretas, mais flexíveis e menos politizadas.