Ethereum pode se tornar o ecossistema de blockchain mais rápido do mundo? Nova atualização diz que sim

Ethereum está ganhando velocidade novamente, não nos gráficos de preço onde atualmente enfrenta dificuldades, mas na silenciosa engrenagem que o sustenta.

Dois avanços paralelos, um na camada de protocolo e outro na criptografia, estão redefinindo o quão rápido e leve o blockchain mais utilizado do mundo pode operar.

Juntos, eles desenham um futuro onde qualquer pessoa, desde instituições até pequenos validadores, pode participar da rede em tempo real sem precisar de supercomputadores ou grandes recursos financeiros.

Atualização Fusaka

O primeiro marco significativo nesse caminho é Fusaka, o próximo hard fork do Ethereum, previsto provisoriamente para dezembro.

A atualização planejada combina melhorias nas camadas de execução e consenso do Ethereum em um lançamento coordenado.

Diferente do Dencun, que introduziu os “blobs” para ajudar os rollups a escalarem, Fusaka não busca apenas throughput bruto.

Em vez disso, seu papel é mais sutil, focando em tornar a rede mais leve, barata e eficiente.

Fusaka implementa 12 Propostas de Melhoria do Ethereum (EIPs) com o objetivo de simplificar o trabalho dos validadores e melhorar a forma como os rollups publicam seus dados.

O destaque, EIP-7594, ou PeerDAS, permite que os validadores confirmem a disponibilidade dos dados amostrando partes dos dados dos rollups em vez de baixá-los completamente.

Embora isso não aumente diretamente o TPS, muda a eficiência com que o Ethereum lida com os dados. Mais informações de rollup agora podem caber por bloco sem aumentar os requisitos dos nós.

Os desenvolvedores esperam que a atualização reduza os custos de transação dos rollups e facilite para pequenos operadores rodarem validadores.

Notavelmente, ela também eleva o limite de gas de 45 milhões para 60 milhões, um aumento de 33% que dá mais espaço para as Layer-2 publicarem dados de transações comprimidos.

Limites de Gas do Ethereum (Fonte: GrowThePie)

Enquanto isso, a implementação já está em andamento. Fusaka passou nos primeiros testes em Holesky e Sepolia, e passará por seu teste final na testnet Hoodi ainda este mês.

Prova em tempo real

Enquanto Fusaka prepara o terreno, o verdadeiro espetáculo acontece na arena das provas.

Em 15 de outubro, a empresa de escalabilidade do Ethereum, Brevis, revelou o Pico Prism, uma nova Máquina Virtual Ethereum de Conhecimento Zero (zkEVM) capaz de produzir provas criptográficas quase tão rápido quanto a rede cria blocos.

Nos testes, o sistema atingiu 99,9% de provas em tempo real, gerando provas completas de bloco em menos de 12 segundos.

O pesquisador da Ethereum Foundation, Justin Drake, destacou que isso representa um salto em relação ao desempenho de maio, quando a configuração SP1 Hypercube só conseguia provar 94% dos blocos no mesmo intervalo.

Segundo ele, a melhoria reduz a latência média das provas para 6,9 segundos, o que significa que a verificação dos blocos pode acompanhar a produção dos blocos. Notavelmente, isso é um pré-requisito para o objetivo de longo prazo do Ethereum de liquidação em subsegundos.

Drake acrescentou que esse desenvolvimento, juntamente com a iminente atualização Fusaka, tornará viável a prova local pela primeira vez.

Ele disse:

“Até o final do ano, várias equipes provarão cada bloco L1 EVM em um cluster de 16 GPUs, consumindo menos de 10kW no total. A meta de 10kW — aproximadamente o mesmo que um carregador residencial da Tesla — é importante para provas locais em garagens e escritórios, eliminando a dependência de provas em nuvem.”

Roteiro de escalabilidade

Drake acredita que esses desenvolvimentos se encaixam em sua projeção de longo prazo de “gigagas L1, teragas L2.”

Nesse cenário, o throughput do Ethereum em sua camada base para atividades de alto valor, como pagamentos e negociações, sobe para 10.000 transações por segundo (TPS).

Por outro lado, a rede pode escalar até 10 milhões de TPS em suas redes de layer-2 para lidar com todas as demais operações. Drake disse:

“O throughput do L1 cresceu 100x desde o início há dez anos, de 20 kilogas/seg para 2 megagas/seg. Com zkEVMs podemos multiplicar por 100 novamente, em metade do tempo.”

Dívida técnica crescente

A caminhada do Ethereum em direção a transações mais rápidas e baratas traz consigo um problema mais silencioso: o acúmulo de sua dívida técnica.

O desenvolvedor do Ethereum, Federico Carrone, mais conhecido como Fede’s Intern, alerta que muitas das principais ferramentas de desenvolvimento da rede, especialmente a linguagem de programação Solidity, estão perdendo força.

Solidity é a base do ecossistema DeFi do Ethereum. De acordo com a DeFiLlama, ela é responsável por mais de 86% da linguagem de contratos inteligentes usada nos protocolos DeFi da blockchain, que somam mais de 200 bilhões de dólares.

Linguagens de Contratos Inteligentes do Ethereum TVL (Fonte: DeFiLlama)

Suas preocupações ecoam as do CTO da Paradigm, Georgios Konstantopoulos, que já havia dito que o ecossistema da Solidity estava “em um estado problemático.”

No entanto, Carrone vê o problema como técnico e econômico para a rede blockchain.

Ele argumentou que manter uma infraestrutura complexa depende de tempo, continuidade e conhecimento profundo, que não podem ser adquiridos da noite para o dia.

Além disso, Carrone observou que o aumento planejado do limite de gas do Ethereum sob a atualização Fusaka representa outro risco.

Carrone alertou que muitos clientes de execução não melhoraram significativamente seu desempenho e podem ter dificuldades para processar blocos maiores.

Considerando todas essas questões, ele concluiu:

“A dívida técnica do Ethereum continua crescendo, não apenas devido à constante e necessária evolução do protocolo, mas porque um grande conjunto de dependências e repositórios está estagnado. O ecossistema continua a escalar, protegendo bilhões de dólares em ativos, enquanto partes da fundação estão se deteriorando.”

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