O uso criminoso de criptomoedas está se tornando "cada vez mais sofisticado", diz Europol

O chefe do Centro Europeu de Crimes Financeiros e Econômicos (EFECC) da Europol, Burkhard Mühl, alertou esta semana que o uso indevido de cripto e blockchain para fins criminosos está “se tornando cada vez mais sofisticado”, enquanto prometeu investimento contínuo da Europol para apoiar os Estados-membros em investigações complexas e internacionais.

“Investigar esses crimes impõe um fardo significativo às agências de aplicação da lei dos Estados-membros da UE”, acrescentou.

Seus comentários foram feitos durante a 9ª Conferência Global sobre Finanças Criminosas e Criptoativos, realizada de 28 a 29 de outubro, organizada conjuntamente pela Europol, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e pelo Basel Institute on Governance, com foco nas formas em evolução como criptoativos e blockchain estão sendo usados de forma ilícita.

Embora representem apenas um pequeno segmento do total de receitas de crimes financeiros, o relatório de crimes cripto da Chainalysis 2025, divulgado em janeiro, apresentou uma estimativa inferior de US$ 40,9 bilhões em valor recebido por endereços de criptomoedas ilícitas em 2024. O valor exclui crimes tradicionais, como tráfico de drogas, onde cripto é usado apenas como ferramenta de pagamento ou lavagem de dinheiro.

A Europol coordenou várias grandes operações este ano, incluindo o desmantelamento de uma rede de cibercrime na Letônia que lavou mais de US$ 330.000 através de criptomoedas, uma rede clandestina de bancos hawala que lavou mais de US$ 23 milhões usando cripto, e um “esquema de fraude de investimento em cripto” que lucrou quase US$ 540 milhões de mais de 5.000 vítimas.

A Europa também foi atingida por uma série de chamados wrench attacks, que envolvem agressões físicas a detentores de criptomoedas para forçá-los a entregar suas chaves privadas de suas carteiras. Em particular, a França registrou 16 desses ataques somente este ano, de acordo com um registro de “Ataques Físicos Conhecidos de Bitcoin” mantido por Jameson Lopp.

Os desafios para muitas forças policiais ao combater crimes relacionados a cripto estão em sua natureza global e na necessidade de cooperação transfronteiriça em operações que às vezes podem ser difíceis de realizar. Por exemplo, vítimas de hacks ou golpes na Europa podem ser alvo de pessoas operando de outros lugares.

Desafios também permanecem em como as autoridades e o setor privado investigam crimes. Entre eles, investigadores dizem que a falta de padrões harmonizados continua sendo um grande obstáculo. Diana Pătruț, gerente de projeto da Blockchain Intelligence Professionals Association (BIPA), disse ao Decrypt que diferentes empresas de análise frequentemente produzem resultados inconsistentes de rastreamento, complicando a colaboração transfronteiriça.

“Nossos stakeholders relataram que diferentes empresas de análise de blockchain produzem resultados diferentes ao rastrear transações. Também não houve padronização para atribuição de carteiras, metodologia, treinamento e formatação, tornando investigações transfronteiriças especialmente desafiadoras”, disse Pătruț.

“Estamos realmente no início desse processo e, para fazer qualquer progresso real, precisamos incentivar mais diálogo”, disse ela, “para que possamos reunir stakeholders dos setores público e privado para desenvolver esses padrões em conjunto e, mais importante, adotá-los de forma plena.”

Pătruț acrescentou que o treinamento também continua sendo uma área que precisa de atenção.

“O maior problema que vemos no momento é que o treinamento em inteligência de blockchain parece ser impulsionado principalmente por soluções do setor privado, e isso cria viés de confirmação, direcionando os treinandos para soluções e metodologias comerciais específicas, sem necessariamente entender ou apreciar sua aplicação subjacente”, explicou.

Pătruț sugeriu que há uma “necessidade de investigadores e instituições financeiras desenvolverem suas próprias capacidades de avaliação crítica” e destacou especificamente uma “lacuna de habilidades” em relação a ferramentas open-source e à tecnologia que sustenta o cripto.

Pătruț também alertou contra a simplificação excessiva do que qualifica como um crime “relacionado a cripto” e sobre comparar a escala do crime cripto com o crime financeiro tradicional.

“Como não existem definições universalmente aceitas sobre o que constitui um crime relacionado a cripto, é difícil determinar se o crime cripto é significativamente mais disseminado em comparação ao crime financeiro tradicional, e há o risco de captura de narrativa, dependendo da agenda de quem observa os dados”, disse ela.

“Provavelmente seria mais útil olhar para o crime financeiro em geral e reconhecer que o crime relacionado a cripto desempenha um papel significativo e crescente, e que deve continuar sendo gerenciado, à medida que criptoativos, stablecoins e ativos tokenizados entram nos mercados financeiros tradicionais.”