Recuperação técnica do Bitcoin estagna enquanto ETFs são pausados

No período de sete dias, a capitalização realizada do ativo saltou 8 bilhões de dólares, marcando um aumento na atividade on-chain raramente observado fora de períodos de extrema tensão. Esse indicador, que mede os investimentos realmente comprometidos, sugere um possível retorno de alta. No entanto, apesar dessa efervescência estrutural, o preço à vista do bitcoin permanece congelado. Surge uma dissonância entre o movimento interno da rede e a inércia dos fluxos externos.

Uma recuperação on-chain mascarada pela estagnação do preço

Na última semana, a capitalização realizada do bitcoin aumentou em 8 bilhões de dólares, ultrapassando a marca de 1,1 trilhão de dólares. Esse indicador, que mede o valor dos bitcoins no momento de sua última transferência, mostra uma intensificação dos movimentos na rede, apesar da liquidação de 1,1 bilhão de dólares.

De acordo com dados da CryptoQuant, esse aumento resulta de uma acumulação ativa, principalmente por parte de players institucionais. “A demanda on-chain está robusta”, enfatiza Ki Young Ju, CEO da CryptoQuant, que atribui esses fluxos a empresas de tesouraria de Bitcoin e ETFs. Essa atividade renovada ocorre, no entanto, em um clima ainda marcado pelas consequências do crash de 19 bilhões de dólares no início de outubro.

Vários indicadores reforçam essa leitura de uma dinâmica subjacente sendo reconstruída, apesar da aparente estagnação do preço:

• O preço do bitcoin ultrapassou 110.000 dólares, refletindo um aumento no custo médio dos BTCs transferidos recentemente;

• Especialistas em mineração estão aumentando sua capacidade de produção: a empresa American Bitcoin, ligada à família Trump, investiu 314 milhões de dólares em 17.280 novos ASICs;

• O hashrate global da rede está aumentando, o que Ki Young Ju interpreta como um claro sinal de alta no longo prazo;

• Tudo isso acontece em um mercado onde os fluxos on-chain aumentam, sem uma reação proporcional do preço nos mercados à vista.

Essa diferença entre fundamentos e avaliação reflete um paradoxo. Apesar da melhora na estrutura técnica e econômica, o bitcoin parece carecer de motores suficientes para desencadear uma dinâmica de alta clara.

Desengajamento temporário dos ETFs desacelera a recuperação

Para entender esse bloqueio, é preciso olhar para os dois catalisadores que sustentaram amplamente o mercado nos últimos meses: os ETFs de Bitcoin e a estratégia de compras contínuas da Strategy. Essas duas fontes de demanda, antes fortemente altistas, agora estão em retração.

“A demanda agora é impulsionada principalmente por ETFs e Strategy, mas suas compras diminuíram atualmente”, alerta Ki Young Ju em uma publicação no X. Essa desaceleração dos principais fluxos institucionais limita, segundo ele, qualquer tentativa de recuperação sustentada. Enquanto esses canais não forem reativados, o mercado permanecerá sob pressão.

Além disso, o contexto macroeconômico e geopolítico continua favorecendo a cautela. O clima permanece marcado pela incerteza, apesar de anúncios como o acordo comercial entre os presidentes Trump e Xi Jinping. No setor privado, a confiança ainda não retornou. Indicadores de sentimento permanecem na chamada zona de “medo” desde o crash de outubro, o que reduz a probabilidade de uma retomada da demanda no curto prazo.

De acordo com analistas da exchange Bitfinex, uma reversão de tendência pode, no entanto, ocorrer se as condições se alinharem. Eles estimam que uma entrada de 10 a 15 bilhões de dólares em ETFs, combinada com uma política monetária mais acomodatícia do Federal Reserve dos EUA (com dois cortes de juros no quarto trimestre), poderia impulsionar o BTC para 140.000 dólares já em novembro.