Principais pontos
A Reuters estima que empreendimentos ligados a Trump arrecadaram US$ 802 milhões em cripto no início de 2025.
A receita veio de tokens WLFI, da memecoin TRUMP e dos rendimentos do stablecoin USD1.
O acordo com a Alt5 Sigma e compradores estrangeiros ajudaram a transformar o valor dos tokens em dinheiro.
Com a flexibilização da fiscalização cripto nos EUA, especialistas apontaram possíveis preocupações de conflito de interesse.
No primeiro semestre de 2025, empreendimentos ligados a Trump registraram aproximadamente US$ 802 milhões em receita cripto, principalmente provenientes de vendas do token World Liberty Financial (WLFI) e da memecoin Official Trump (TRUMP), superando em muito a receita de golfe, licenciamento e imóveis.
As investigações e documentos metodológicos da Reuters detalham de onde veio o dinheiro e como foi contabilizado. Este guia explica a mecânica, os compradores e o contexto regulatório sem sensacionalismo.
O que é a World Liberty Financial?
WLFI foi lançada no final de 2024 como um projeto centrado em tokens vinculado à família Trump. Seu token de governança, WLFI, oferece direitos limitados aos detentores em comparação com modelos tradicionais de governança em finanças descentralizadas (DeFi). O advogado da empresa argumenta que o token tem “utilidade real”.
O modelo central de monetização é direto. Uma afiliada da Trump Organization tem direito a 75% da receita das vendas de tokens após despesas, de acordo com o “Gold Paper” da WLFI. A Reuters utilizou este documento como base para seu modelo de receita.
No primeiro semestre de 2025, a Reuters estima que as vendas de tokens WLFI foram a maior fonte de receita em dinheiro. Elas representaram a maior parte do ganho cripto da família.
O acordo com a Alt5 Sigma
Em agosto de 2025, a WLFI marcou um acordo na Nasdaq no qual a Alt5 Sigma levantou centenas de milhões de dólares para comprar tokens WLFI. O movimento proporcionou um grande catalisador de demanda e converteu parte do valor em papel em dinheiro realizado para entidades controladas por Trump.
Reportagens separadas em agosto detalharam um plano mais amplo para uma estratégia de “tesouraria” WLFI de US$ 1,5 bilhão vinculada à Alt5. O plano visava manter uma parte significativa da oferta de tokens, detalhes que ajudam a explicar a escala dos fluxos para a WLFI.
Como a memecoin TRUMP gerou receita
A coin TRUMP foi lançada em 17 de janeiro de 2025, e seus criadores ganharam uma parte das taxas de negociação da Meteora, a exchange onde foi negociada pela primeira vez. Em duas semanas, empresas de análise onchain citadas pela Reuters estimaram entre US$ 86 milhões e US$ 100 milhões em taxas, principalmente na Meteora.
Na análise do primeiro semestre de 2025, a Reuters modelou aproximadamente US$ 672 milhões em vendas da coin e, usando uma suposição conservadora de participação de 50%, atribuiu cerca de US$ 336 milhões a interesses ligados a Trump. A metodologia reconhece incertezas porque a propriedade e a divisão das taxas não são totalmente divulgadas.
Quem comprou os tokens?
A maioria dos compradores de WLFI são endereços de carteira pseudônimos, mas a investigação identificou vários participantes de alto perfil e demanda concentrada do exterior. A investigação destaca a compra de US$ 100 milhões em WLFI pela Aqua1 Foundation e relata que Eric Trump e Donald Trump Jr. participaram de uma roadshow global promovendo o token.
A análise também observa que grandes compradores identificáveis incluem investidores estrangeiros. Embora a atribuição permaneça probabilística, a participação estrangeira entre os grandes detentores de WLFI parece significativa.
O stablecoin USD1 (e seu fluxo de juros)
WLFI também promove o USD1, um stablecoin atrelado ao dólar e lastreado por reservas em dinheiro e títulos do Tesouro dos EUA, com custódia feita pela BitGo.
A Reuters relata que as reservas que lastreiam o USD1 geram uma taxa de juros anual estimada em US$ 80 milhões nos rendimentos atuais e observa que uma parte desses juros é destinada a uma empresa com 38% de participação da Trump Organization, embora o valor efetivamente realizado em 2025 permaneça não especificado.
Em maio de 2025, a MGX, apoiada por Abu Dhabi, anunciou um investimento de US$ 2 bilhões na Binance, que, segundo relatos e declarações públicas da WLFI, seria liquidado usando USD1. O acordo é um exemplo emblemático de como o stablecoin da WLFI está posicionado para facilitar transações de grande porte.
Como a Reuters chegou a “US$ 802 milhões”
Como grande parte do império empresarial de Trump é privado, a Reuters combinou divulgações presidenciais, registros de propriedades, dados financeiros liberados por tribunais e dados de negociações onchain. Em seguida, aplicou premissas explícitas, como a participação de 75% da WLFI nas vendas de tokens WLFI e de 50% na TRUMP, revisadas por acadêmicos e contadores públicos certificados.
A conclusão da Reuters foi que quase US$ 802 milhões da receita da família Trump no primeiro semestre de 2025 vieram de empreendimentos cripto, em comparação com apenas US$ 62 milhões de seus negócios tradicionais.
Você sabia?A WLFI contesta partes da análise da Reuters, argumentando que seu modelo de receita foi simplificado demais, que os dados das carteiras foram mal interpretados e que a utilidade real do projeto foi negligenciada.
O pano de fundo regulatório (e a questão do conflito)
Desde janeiro de 2025, a postura de fiscalização dos EUA em relação ao cripto mudou. O Departamento de Justiça dissolveu sua Equipe Nacional de Fiscalização de Criptomoedas e reduziu suas prioridades, enquanto a Securities and Exchange Commission dos EUA arquivou ou suspendeu vários casos de destaque, incluindo sua moção para encerrar o processo contra a Coinbase e o término de ações contra outras grandes empresas.
Especialistas em ética disseram à Reuters que um presidente em exercício supervisionando políticas cripto enquanto sua família obtém receitas substanciais com cripto apresenta um novo conflito de interesses, mesmo que não seja ilegal.
A Casa Branca e representantes das empresas negaram qualquer irregularidade.
Conclusões e contexto mais amplo
Em resumo, o que parece ser uma “corrida do ouro” de US$ 800 milhões é, abaixo da superfície, uma mistura de vendas de tokens impulsionadas por marca, mecânicas de memecoin ricas em taxas, um acordo de tesouraria de alta velocidade e um stablecoin com rendimento.
Os totais são extraídos de divisões documentadas e fluxos modelados. A controvérsia, no entanto, gira em torno de quem foram os compradores, quão transparentes permanecem os empreendimentos e como a política dos EUA mudou à medida que o dinheiro entrou. Para quem acompanha a política cripto, esta história agora serve como um estudo de caso ao vivo sobre incentivos, divulgação e risco de governança.
