Como o plano do euro digital da UE pode transferir poder para os EUA

Quatorze dos principais bancos da Europa estão se posicionando contra o plano do Banco Central Europeu para um euro digital. Eles argumentam que o projeto pode enfraquecer os sistemas de pagamento privados antes de discussões parlamentares cruciais em Bruxelas nesta semana. 

Parlamentares agora pedem uma redução da iniciativa, argumentando que ela carece de benefícios claros e corre o risco de duplicar inovações lideradas pelo mercado. Enquanto isso, o quadro regulatório de criptoativos da União Europeia pode, sem querer, favorecer emissores dos EUA.

Revolta Bancária Desafia o Plano do Euro Digital

A ambição do Banco Central Europeu de lançar um euro digital até 2029 está enfrentando uma resistência crescente em todo o continente. 

Quatorze grandes bancos — incluindo Deutsche Bank, BNP Paribas e ING — formaram uma frente unida contra a proposta. Eles acreditam que o euro digital duplicaria os esforços privados já existentes para construir uma rede de pagamentos europeia unificada.

A alternativa deles, Wero, já opera na Bélgica, França e Alemanha, e pretende se expandir por toda a zona do euro. Ela foi projetada para reduzir a dependência de provedores não europeus como Visa, Mastercard e PayPal. 

Os bancos por trás do Wero argumentam que a moeda digital de varejo proposta pelo BCE corre o risco de interromper esse progresso em vez de apoiá-lo.

A resistência crescente do setor bancário agora chegou aos formuladores de políticas, que estão questionando se o projeto deve prosseguir em sua forma atual.

Parlamentares Defendem Versão Reduzida

O BCE está avançando com planos para um piloto em 2027, embora a implementação completa ainda precise de aprovação política. Pela legislação vigente, o banco central não pode emitir dinheiro digital sem autorização do Parlamento Europeu e dos governos nacionais.

Parlamentares estão cada vez mais preocupados que uma versão online do euro digital possa competir com sistemas de pagamento privados, em vez de complementá-los.

Hoje, o Parlamento Europeu se reúne para discutir o euro digital. Mas faz isso em meio a uma oposição cada vez mais vocal. Quatorze bancos europeus, incluindo Deutsche Bank, BNP Paribas, ING e outros, alertam que o euro digital irá prejudicar os sistemas de pagamento do setor privado –…

— Noelle Acheson (@NoelleInMadrid) 5 de novembro de 2025

Por isso, cresce o apoio a um modelo reduzido, apenas offline, que funcionaria como uma forma digital de dinheiro em espécie. Ele permitiria pagamentos sem acesso à internet e evitaria sobreposição com redes comerciais já estabelecidas em toda a Europa.

Enquanto o euro digital enfrenta resistência internamente, a agenda regulatória mais ampla da Europa também pode estar fortalecendo seus rivais no exterior.

Regras de Cripto Favorecem os EUA

O quadro Markets in Crypto-Assets (MiCA) da União Europeia, criado para fortalecer a supervisão e proteger os consumidores, está produzindo consequências não intencionais para emissores europeus. 

O MiCA concede aos detentores da UE o resgate ao valor nominal sem taxas, mesmo durante volatilidade do mercado. Em contraste, as regras dos EUA permitem que emissores de stablecoins cobrem taxas de resgate e estruturem políticas de reservas que podem priorizar detentores domésticos.

As próprias regras de stablecoin da UE criaram uma porta dos fundos para a dominação financeira dos EUA. A "brecha de múltiplos emissores": – Entidades da UE devem resgatar stablecoins ao valor nominal, sem taxas – Entidades dos EUA podem cobrar taxas de resgate – Em uma crise, todos resgatam através da UE – Reservas dos EUA ficam… pic.twitter.com/t3B2XDuPzU

— James | Ethereum Foundation ⟠ | Snapcrackle.eth (@james_gaps) 5 de novembro de 2025

Esse panorama cria um desequilíbrio estrutural que deixa as empresas europeias em desvantagem.

Durante períodos de estresse financeiro, emissores da UE podem enfrentar maior pressão de resgate por parte de investidores globais, enquanto empresas americanas permanecem protegidas. Autoridades da UE, incluindo o European Systemic Risk Board, alertaram que tais estruturas de múltiplos emissores podem canalizar resgates para a UE e aumentar riscos sistêmicos.

Analistas dizem que o momento não poderia ser pior. 

Stablecoins lastreadas em dólar estão crescendo exponencialmente, tornando-se uma fonte essencial de liquidez digital global. À medida que crescem, expandem a dominância do dólar para novas áreas das finanças online, dando aos EUA uma vantagem estratégica. 

O quadro europeu, criado para fortalecer a autonomia financeira, pode, portanto, aprofundar a dependência de sistemas monetários estrangeiros. Junto com a incerteza em torno do euro digital, isso expõe uma fraqueza mais ampla na estratégia financeira da Europa. 

Ambas as iniciativas demonstram como a regulação pode ultrapassar seus objetivos, desacelerando a inovação enquanto aumenta a dependência de infraestrutura externa.