Austrália avança para incluir plataformas de criptoativos no regime de licenciamento financeiro

O governo australiano introduziu uma nova legislação que exigirá licenças financeiras para plataformas de criptoativos, reforçando a supervisão sobre o setor em rápido crescimento.

O Tesouro submeteu o Corporations Amendment (Digital Assets Framework) Bill 2025 ao parlamento na quarta-feira, após a circulação de um projeto de lei durante a consulta de setembro . O projeto foi apresentado e lido pela primeira vez ontem, e foi encaminhado para segunda leitura.

A nova legislação pretende enquadrar os prestadores de serviços de criptoativos no regime de licenciamento de serviços financeiros. Especificamente, o projeto exigirá que plataformas de ativos digitais e plataformas de custódia tokenizada possuam uma Licença de Serviços Financeiros Australiana (AFSL). 

Os ativos digitais estarão "sujeitos aos mesmos quadros legais gerais que outros ativos, incluindo leis de propriedade, consumidor, insolvência, criminal, familiar e fiscal", afirmou o governo em um memorando explicativo que acompanha o projeto.

O Tesouro também destacou em um comunicado na quarta-feira que o projeto visa incluir os operadores de serviços de criptoativos no mesmo regime de proteção ao consumidor e conduta que rege os serviços financeiros tradicionais.

"Milhões de australianos utilizam ou investem em ativos digitais todos os anos e trata-se de tornar isso o mais seguro possível, ao mesmo tempo que se incentiva a inovação", disse o Secretário Assistente do Tesouro, Daniel Mulino, no comunicado.

Novas obrigações

De acordo com o novo projeto, as plataformas licenciadas serão obrigadas a atuar "de forma eficiente, honesta e justa", fornecer divulgações claras sobre como os ativos dos clientes são armazenados, manter uma governança robusta e controles de risco, evitar condutas enganosas e oferecer mecanismos de resolução de disputas e compensação. 

No entanto, as obrigações da AFSL serão adaptadas para refletir as estruturas únicas dos negócios de criptoativos. Operadores menores — aqueles que detêm menos de A$5.000 (US$3.263) por cliente e facilitam menos de A$10 milhões (US$6,5 milhões) em transações anuais — estarão isentos, espelhando exceções para outros produtos financeiros de baixo risco, como facilidades de pagamento não monetárias.

Segundo a legislação atual, as exchanges de criptoativos na Austrália são obrigadas apenas a cumprir regulamentos de combate à lavagem de dinheiro e de conhecimento do cliente (KYC), de acordo com o Australian Financial Review.

O quadro proposto aplica-se tanto a criptoativos como bitcoin e stablecoins, quanto a representações tokenizadas de ativos do mundo real, incluindo títulos, propriedades e commodities. Tal tokenização e finanças digitais podem desbloquear até A$24 bilhões (US$15,6 bilhões) em produtividade anual e economias de custos, afirmou o Tesouro, citando uma nova pesquisa do Digital Finance Cooperative Research Centre.

A legislação baseia-se em esforços anteriores da Australian Securities and Investments Commission (ASIC), que no mês passado esclareceu como produtos financeiros tokenizados se enquadram na legislação existente e sinalizou uma fiscalização mais rigorosa para modelos de negócios de criptoativos não licenciados.

No início deste mês, o presidente da ASIC, Joe Longo, afirmou que o país deve "aproveitar a oportunidade ou ficar para trás" à medida que a tokenização transforma os mercados de capitais em todo o mundo.